Maputo, Moçambique — Um relatório preliminar sobre a escassez de divisas em Moçambique, apresentado pelo Centro de Integridade Pública (CIP) durante um evento transmitido pelo YouTube, destacou graves lacunas na gestão económica do país e a necessidade urgente de diálogo e flexibilidade por parte das autoridades. Segundo a pesquisa, trata-se de uma crise conjuntural que já havia sido superada há alguns anos, mas que hoje impede o país de alcançar a tão desejada independência económica.
Críticas directas ao Banco de Moçambique e à Presidência
O estudo expressa uma preocupação significativa com a postura do Banco de Moçambique, apontando uma “tendência a ser meio ditador”, especialmente atribuída ao governador da instituição. A crítica central refere-se à falta de abertura ao diálogo com os diversos actores económicos, bem como à negligência de uma visão holística da economia.
Um exemplo citado é a situação em que 50 milhões de rands são pagos no mercado paralelo na África do Sul para aceder a produtos essenciais, prática considerada uma “bandeira vermelha para o branqueamento de capitais”, paradoxal num país que afirma lutar para sair da lista cinzenta.
O relatório também questiona a postura do Presidente da República, que, em reuniões públicas, tem atribuído a responsabilidade à actuação dos bancos comerciais e do regulador. A pesquisa sublinha que as declarações do chefe de Estado devem reflectir uma análise abrangente de todos os actores da economia, dado o impacto directo dessas palavras sobre o país. Segundo o documento, “quando os actores políticos não agem em conformidade, os actores económicos sofrem”.
Apelos urgentes ao diálogo e à flexibilidade
Para superar os desafios actuais, os investigadores defendem um Banco Central mais aberto ao diálogo, lembrando que tentativas anteriores de engajamento têm sido infrutíferas. O relatório enfatiza que sem diálogo é impossível compreender os constrangimentos económicos e propor soluções eficazes.
O estudo recomenda que as autoridades se sentem com representantes da economia real, como comerciantes locais e a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), responsáveis pela importação de bens essenciais. Além disso, alerta para a rigidez na aplicação de teorias económicas estrangeiras, observando que “há teorias que funcionam nos Estados Unidos, mas que no contexto moçambicano podem não ser adequadas”. O documento reforça a importância de flexibilidade, construção de pontes e reconhecimento de que nem sempre se está certo.
Perspectivas futuras e caminho para a independência económica
O relatório preliminar é apenas a primeira fase de um trabalho mais abrangente. O CIP anunciou que lançará em breve um relatório complementar, que mostrará “a outra face deste problema”.
A pesquisa conclui que a independência económica de Moçambique permanecerá inalcançável enquanto a escassez de divisas persistir. Situações que antes permitiam o uso de cartões bancários internacionalmente sem recorrer a divisas físicas ou ao pânico de atravessar fronteiras, hoje voltaram a ressurgir.
O evento digital contou com a participação de cerca de 2.500 pessoas, reafirmando o compromisso do CIP em manter o debate sobre este tema vital para a economia moçambicana.
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