O Ministro da Agricultura e Florestas de Angola, Isaac dos Anjos, criticou duramente a prática de importar restos de frango, classificando-a como um “vexame nacional” e um entrave à dignidade do país. A declaração foi feita durante uma entrevista, na qual também abordou estratégias para o setor agrícola, o combate ao estigma da pobreza rural e a necessidade de soluções estruturais para o desenvolvimento.
Importação de sobras é “vexame nacional”
A polémica sobre a entrada de pedaços de frango no mercado angolano voltou ao centro do debate. Nesse sentido, o ministro afirmou de forma categórica:
“Vender a sobra no processo industrial para Angola é humilhante, é deplorável e deve ser proibido absolutamente.”
Além disso, Isaac dos Anjos denunciou que a pressão para que Angola aceite esse material rejeitado é intensa e chega a envolver canais diplomáticos. “Envolvem embaixadores para nos pressionarem para termos que ficar com a parte rejeitada”, explicou. Por outro lado, o ministro frisou que Angola possui capacidade interna de processamento, defendendo que o país deve receber o frango inteiro e realizar o corte localmente, agregando valor e gerando emprego.
Desenvolvimento rural e dignidade no campo
O ministro destacou que a agricultura está diretamente ligada à dignidade dos cidadãos do interior. Por conseguinte, a falta de oportunidades leva muitos a migrarem para as cidades. “Ou criamos condições para as pessoas no interior, ou elas vão tender a migrar para as cidades”, alertou.
Além disso, Isaac dos Anjos sublinhou a necessidade de acabar com o estigma do camponês pobre. Reforçou que a riqueza deve ser encarada como algo positivo:
“É preciso que as pessoas sejam ricas. A riqueza não faz mal a ninguém, não é vergonha, pelo contrário, ajuda a resolver problemas.”
Dessa forma, criticou a prática de doar insumos agrícolas, pois esta desvaloriza o setor e inibe a eficiência. Segundo ele, é fundamental que os agricultores compreendam o custo real dos recursos utilizados.
Projetos e financiamento agrícola
O setor tem recebido apoios significativos, como o PEDAC (Programa de Desenvolvimento da Agricultura Comercial), que já injetou mais de 76 milhões de dólares no setor privado e empresarial jovem. Além disso, o MOSAP, atualmente na terceira fase, e financiamentos do Fida, Bade e Jica têm dado suporte estratégico.
No campo da produção de cereais, especialmente o arroz, observa-se evolução. O ministro revelou que “Estamos a fazer a recuperação do Luinga”, projeto que disponibilizará 17 mil hectares irrigados. Ademais, países como Índia e Japão, através do TICAD, têm demonstrado interesse em apoiar Angola com tecnologias agrícolas e expansão territorial.
Pecuária e instituições degradadas
Para enfrentar a seca, sobretudo no Cafu, estão sendo implementadas infraestruturas estratégicas, como o canal do Cafu e as barragens de Ndue e Calucube. Consequentemente, a região contará com lotes de até 500 hectares para exploração e com a primeira estação veterinária em Ndue, construída com apoio da Embrapa (Brasil).
No entanto, Isaac dos Anjos alertou para o estado de degradação das instituições de investigação agronómica e zootécnica. Por exemplo, a destruição da estação de Caraculo evidencia os danos provocados por défices orçamentais.
Comercialização e vazio deixado pelo PAPAGRO
Questionado sobre o antigo programa PAPAGRO, o ministro reconheceu falhas na sua extinção sem substituição:
“Você eliminou o PAPAGRO e não meteu nada em sua substituição. Fica um vazio.”
Para o futuro, Isaac dos Anjos defendeu soluções estruturais e sustentáveis. “O país tem que resolver os problemas de maneira estrutural, não é pontual, tipo bombeiro”, frisou. Por isso, ele considera essencial criar um sistema nacional de comercialização robusto, apoiado em reservas estratégicas de produção interna.